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O problema da educação superior é a EAD? Será? - Telesapiens
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out 16

O problema da educação superior é a EAD? Será?

O problema da educação superior é a EAD? Será? Mais um artigo polêmico envolvendo o Censo 2022 e a fala do Ministro da Educação, Camilo Santana. Desta vez, a TeleSapiens está dando voz a um artigo sensacional, escrito pelo Prof. Paulo Milet, um proeminente empresário e educador que atua no cenário das tecnologias educacionais desde a década de 1980. Neste artigo, Milet comprova, com os próprios números do Censo 2022, que a EaD não parte do problema, mas sim parte da solução para a elevação da qualidade e, principalmente, da inclusão social no ensino superior do Brasil.

Quer conferir mais esta? Então não deixe de ler este artigo na íntegra.

Por Paulo Milet*

“No final de 2021, quando foi divulgado (com atraso por conta da pandemia) o censo do ensino superior de 2019, escrevi um artigo provocativo com o título: Que tal perder 2 milhões de alunos por ano? (abmes.org.br).

Lendo agora o censo de 2022, divulgado nessa última semana, vi que o problema relatado permanece grave (ou até pior).

Mas, parece que a grande revelação e repercussão do novo Censo foi que o ensino a distância (EaD) está crescendo de modo acelerado e descontrolado e que isso está sendo visto como problema!

Sério isso? A EaD não é problema! Problema é falta de qualidade no processo de ensino e aprendizagem, seja ele presencial ou a distância!

Como eu atuo na área de EaD desde o início da década de 90 do século passado, antes mesmo da internet, com os CBTs (Computer Based Training), sei que a EaD funciona e bem! No mundo corporativo, focado em resultados, essa dúvida nunca existiria, porque a preocupação é com a eficácia e produtividade para os clientes.

A EaD pode ser ruim ou excelente. Os resultados devem dizer isso. E se forem ruins, têm que ser aprimorados, usando as melhores metodologias e tecnologias, e não desativando ou  descontinuando o processo.

Esse foco no “problema da EaD” vislumbrado por alguns em função do Censo 2022, fez com que autoridades e especialistas não percebessem que o Censo aponta para um problema muito maior do que esse: a evasão, o abandono e a desistência que estão “disfarçados” nos números.

Vejam o quadro a seguir e meus comentários (os números estão arredondados para facilitar):

Parece que tem algo errado, não?

Se o ano de 2017 teve 8,3 milhões de matriculas, sendo que desses, cerca de 3,2 milhões foram novos ingressantes e 1,2 milhão concluíram, então, logicamente, o ano de 2018 começaria com 7,1 milhões (8,3 – 1,2).

Se em 2018 ingressaram 3,5 milhões, o número de matrículas deveria ser de 10,5 milhões (7,1 + 3,5) e não 8,5 com um déficit de surpreendentes 2,1 milhões de alunos que desapareceram!

Isso se repete ao longo dos 6 anos analisados, onde, se somados os ingressos (22,7milhões) e abatidos os concluintes (7,6 milhões), o número de matriculados em 2022 deveria ser de 15 milhões a mais que 2016, ou seja, cerca de 20 milhões! Uma diferença de mais de 11 milhões ou quase 2 milhões por ano entre 2017 e 2022!

Onde foram parar esses 2 milhões por ano?

Evadiram? Sumiram? Desistiram? Desapareceram?

Vamos focar nisso e na melhoria das metodologias de ensino/aprendizagem, sejam presenciais ou a distância, e não em diminuir o número de alunos EaD.

Vamos ver outros números revelados pelo censo?

Comparando os ingressos de 2017 com os formados em 2021 (em 4 anos), temos uma boa informação:

Os dados da OCDE (estão na pesquisa) mostram uma aprovação de 82%.

Os dados do Brasil no mesmo período (2017 a 2021) mostram uma aprovação de 40%.  Deu pra entender? Dos 3.226.000 ingressantes em 2017, apenas 1.327.000 se formaram em 4 anos.

Comparando 2018 com 2022 o resultado é parecido, ou seja, cerca de 37%.

O MEC/Inep divulgou os “indicadores de trajetória” com mais detalhes (quadro abaixo), então pode-se ver melhor que esse comportamento se repete ao longo dos anos. A coluna verde mostra o índice de conclusão e a vermelha o de abandono, considerando os ingressantes de 2013.

Uma perda de 60%! E parece que isso não repercute. Será que o Ministro da Educação percebeu ou foi informado? Então a EaD é, na verdade, parte da solução e não do problema.

Nosso problema a resolver é como evitar essa perda brutal de recursos com evasão, abandono, desistências, etc…

Vamos ver mais algumas informações do censo: a maioria dos ingressantes presenciais  em 2022 foi para o período noturno. Por que será? Claramente tem a ver com horário de trabalho e renda. E agora vamos fechar vagas EaD e transformar em aulas presenciais? Pra quem? Qual vai ser a mágica para fazer os alunos EaD passarem para o presencial?

Não é muito mais fácil e óbvio melhorar a qualidade da EaD com metodologias e tecnologias que já existem e colocar mais alunos ainda?

Todas as melhores universidades do mundo usam EaD intensamente. Desde o advento dos cursos Mooc (online, grátis) em 2011, 2012, milhões de alunos no mundo inteiro já usaram e usam esses cursos e graduações completas com excelente aproveitamento.

A Heutagogia (autoaprendizado dos adultos) é uma ciência e a EaD um excelente instrumento. Vamos usar os métodos adaptativos e personalizados (adaptive learning). Vamos usar o mastery e micro learning (pequenas lições com repetição até a absorção para aprender). Vamos usar os serious games, a Inteligência artificial, as realidades virtual, aumentada e mista, e o que mais puder ser usado.

Todos esses recursos estão disponíveis e não precisam de grande investimento. Como todo processo de melhoria contínua, as soluções se aplicam a volumes maiores e o custo diminui. O setor privado parece ter feito o dever de casa e percebido como ampliar o número de vagas, principalmente via EaD. A área pública (excelentes universidades) ainda não.

As instituições públicas têm 11 alunos por professor no presencial e 34 na EaD, sendo 12 na média, atendendo 2 milhões de alunos. Já as instituições privadas têm 22 alunos por professor no presencial e 171 na EaD, com 48 na média, atendendo 7,4 milhões de alunos.  Essa diferença de produtividade não chama a atenção?

E se as instituições públicas minimamente dobrassem essa produtividade (ficando ainda na metade do setor privado), o número de alunos atendidos poderia ser de 4 milhões!

São mais de 22.000.000 de vagas! Temos apenas 9.440.000 alunos e não precisamos andar para traz em termos de tecnologia. Precisamos andar para a frente em termos de qualidade, produtividade e aprendizado, como todas as organizações, governos e empresas têm feito nos últimos anos em suas atividades.

Temos milhões de adultos que abandonaram os estudos por conta de horários, renda, descasamento com o mercado de trabalho ou outras dificuldades. Vamos trazê-los de volta! Para o presencial diurno? Nem pensar! Anytime, anyplace, lifelong learning, 40+, 50+, são as respostas. E com muito mais vagas na área pública, grátis e com EaD.

Uma última informação vinda do ENADE 2021: Os alunos dos cursos EaD têm uma avaliação pior do que os alunos do presencial – É verdade – Mas essa amostra é comparável? Fora o método presencial ou EaD, as outras variáveis são similares? Reproduzo aqui a frase literal da apresentação ENADE: “Perfil predominante: os estudantes de cursos EaD são mais velhos, casados e trabalham 40 horas ou mais por semana”.

Deu pra perceber? Os alunos da EaD têm mais idade, casados e com famílias e trabalham mais que os alunos presenciais. Isso não justificaria notas menores? Parece óbvio. Tirar ou diminuir os cursos EaD apenas tiraria desse grupo a chance de concluírem uma graduação.

Vamos avaliar o mercado de trabalho, estudar as novas profissões e suas mudanças causadas pelas novidades tecnológicas. Listo algumas: IA, IoT, Drones, Impressão 3d, Nanotecnologia, RA, RV, Metaverso, etc. Os professores têm que saber o que está acontecendo e “tentar” direcionar os alunos para as habilidades que serão necessárias.

Sempre com QUALIDADE. Este é o desafio!”

 

(*) Paulo Milet é consultor em Gestão, Inovação e EaD, Presidente do Comitê de Educação do Instituto Coalizão, Diretor da RIOSOFT e TIRIO, formado em Matemática/UnB, com pós-graduação em Administração Pública pela FGV e CEO da ESCHOLA.COM.

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Sobre o Autor

Paulo Milet é consultor em Gestão, Inovação e EaD, Presidente do Comitê de Educação do Instituto Coalizão, Diretor da RIOSOFT e TIRIO, formado em Matemática/UnB, com pós-graduação em Administração Pública pela FGV e CEO da ESCHOLA.COM.

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